sexta-feira, 24 de abril de 2015

Shallows, de Nicholas Carr: O Cão de Guarda e o Ladrão, HAL e Eu e Ferramentas para a Mente

Em “Shallows”, Nicholas Carr mostra as transformações que a chegada de novas tecnologias causou em diversos períodos da história, tanto com descobertas antigas como o mapa e a bússola como com as mais recentes tecnologias, como o universo da internet. São apresentadas mudanças no comportamento da sociedade e até mesmo na mente dos indivíduos. Mudanças que tornaram e estão tornando as pessoas e seus hábitos superficiais e dependentes.

O prólogo, “O cão de guarda e o ladrão”, fala, com ajuda das palavras de Marshall McLuhan, sobre a influência que o conteúdo de um novo meio de comunicação pode gerar nas pessoas. Ele muda a nossa forma de agir e pensar, causa um “emburrecimento” da cultura e da mente da sociedade. Nos entregamos tão fielmente a um novo meio que soltamos o “cão de guarda” que protege nossa mente e deixamos o “ladrão”, que são os detentores dessa mídia, penetrar e moldar nosso comportamento.

No primeiro capítulo, intitulado “HAL e Eu”, o autor demonstra, com exemplos de sua própria vida e da de outros, que o universo online está de fato transformando as mentes das pessoas. A navegação fácil e rápida pelos muitos sites da internet está mudando hábitos de leitura, transformando nosso pensamento, enfraquecendo nossa capacidade de se concentrar em uma mesma leitura por um longo período de tempo, nos tornando incapazes de se manter em um texto muito longo sem distrações, diminuindo drasticamente nossa capacidade de prestar atenção. A facilidade e rapidez fornecidas pela internet se mostram ao mesmo tempo uma dádiva e uma maldição, pois ao mesmo tempo em que aumentam a produtividade e a eficácia de conteúdo com suas ferramentas de alta velocidade, causam todos os efeitos já citados.

O terceiro capítulo, “Ferramentas para a Mente”, trata de questões tecnológicas bem mais antigas, porém igualmente importantes e revolucionárias, tais como as invenções do relógio e do mapa e as transformações causadas por essas invenções, e da mudança de uma sociedade essencialmente oral para uma sociedade baseada na escrita. Surgem outros pontos interessantes como a necessidade dessas invenções, e os motivos pelos quais elas foram inventadas, em seus determinados períodos históricos, a importância da tecnologia na formação da civilização e a divisão das várias tecnologias pela forma com que alteram nossas capacidades, com foco na discussão sobre as chamadas “tecnologias intelectuais”, nas quais o relógio e o mapa se encaixam.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Redes Sociais na Internet: Considerações Iniciais

Em uma abordagem simples, Raquel Recuero fala de redes sociais na internet a partir de estudos sobre redes complexas e a funcionalidade destas em mídias sociais como Orkut, e blogs e fotologs.


Partindo da teoria dos grafos de Euler, os estudos na teoria das redes levaram a análises sociológicas de como  as redes sociais são formadas. Tendo como base redes inteiras e redes personalizadas, essas análises estudam elementos como relações, laços sociais e multiplexidade, aplicados em interações entre duas pessoas (díades) ou três pessoas (tríades). De todo modo, a base dessas relações é a interação entre suas partes, o que, em macroescala, gera a teia das redes sociais, que são os locais onde tais interações acontecem.


Três modelos de redes complexas, oriundos de estudos sobre redes com o objetivo de explicar como funcionam, são descritos neste estudo. O de redes aleatórias funciona sobre a premissa de que os nós entre indivíduos e, posteriormente, grupos de pessoas, são formados de maneira aleatória, com uma chance igual para todos de formar cada vez mais conexões. Em um determinado ponto, é inevitável que todos os nós estejam conectados, formando uma rede igualitária.


O modelo de mundos pequenos mostra dois tipos de relações entre membros: entre indivíduos próximos (laços fortes) e entre indivíduos aleatórios (laços fracos). Segundo esse modelo, os laços fracos representam uma importância muito maior para o desenvolvimento das redes sociais que os laços fortes, porque os laços fortes geralmente existem entre pequenos grupos de indivíduos que já se conhecem, e muito bem, ao passo que em uma relação fraca, entre pessoas que pouco se conhecem, as oportunidades para a absorção de novos elementos sociais são muito maiores.


O modelo de redes sem escalas refuta ambos os modelos anteriormente descritos.Seu criador, Laszlo Barabási, acredita que exista uma ordem na forma como as redes sociais são estruturadas, ao contrário da aleatoriedade das redes aleatórias ou das de mundos pequenos. Ele postula uma lei segundo a qual quanto mais conexões um nó possuir, maior serão as chances de mais conexões serem ligadas a ele. A característica igualitária das formações de conexões entre nós das redes aleatórias também não existe no modelo de redes sem escalas, que diz que enquanto a minoria de nós mais ricos, chamados de hubs, está sempre mais bem conectada e crescendo a uma maior velocidade, a maior parte dos nós de uma rede tem poucas conexões.

Após estudar esses três modelos, a autora os aplica nas redes sociais Orkut, blog e fotolog. Ela chega à conclusão de que, apesar de os três modelos apresentarem características válidas aos três tipos de mídias sociais usadas como exemplo, todos são incapazes de englobar com sucesso o funcionamento de uma rede social online por apresentarem falhas como a aleatoriedade da formação de relações, a não-contabilidade de fatores levados em conta por um usuário de redes sociais ao estabelecer uma conexão, a forma pela qual esta conexão é estabelecida e o custo social necessário para se manter uma relação.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Storytelling Transmídia: Narrativa para multiplataformas

A arte de contar histórias existe há séculos. Pela contação de histórias, a humanidade passou entretenimento e experiências através das gerações, gerando diversos legados culturais. Com o tempo, o hábito de contar histórias foi adquirindo importância além do entretenimento sem compromisso. A interação e a atenção despertadas por uma história bem contada são características importantes para os meios de mídia, que as usam na ferramenta conhecida como storytelling, a contação de histórias cativantes e impactantes.

À luz do que Henry Jenkins chama de cultura da convergência, o storytelling se desenvolveu para fazer sucesso nos e entre os diferentes tipos de mídias no universo cultural e tecnologicamente desenvolvido em que vivemos. A produção e divulgação de histórias envolvendo diversas mídias em conjunto pode levar ao sucesso imediato de marcas e produtos, também conhecidos como franquias de mídias, desde a concepção. A narrativa entre mídias, muito diferenciada dos modelos narrativos convencionais, é chamada de storytelling transmídia.

Geradas através da criação de profundos universos multimídia e de uma complexidade narrativa, as ações de storytelling transmídia ganharam força no contexto do desenvolvimento tecnológico televisivo e telefônico, com o surgimento de dispositivos capazes de reproduzir os mais diversos tipos de mídias, tais como smartphones e tablets. Tais dispositivos permitem uma experiência diferente de vivência de um determinado universo narrativo, o que auxilia em muito o consumidor/telespectador/internauta/fã na análise que ele faz da história que está absorvendo. Essas inovações, introduzidas no já citado contexto colaborativo, coletivo e participativo da cultura de convergência, permitem a existência de histórias além das simples histórias. Histórias em que o consumidor assume papéis além do de simples ouvinte-consumidor, em que ele pode interagir da forma que o produtor-contador quiser oferecer e compartilhar essas interações no universo cada vez mais crescente das mídias sociais, onde um surpreendente fluxo de informações é publicado e visto por milhões de pessoas. A transmidialidade faz com que as mídias ajudem umas às outras a manter o interesse humano pela complexa narrativa compartilhada, levando o público a imergir profundamente nos universos criados por essas narrativas.